sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Falando sobre agressividade


A agressividade é um " comportamento inesperado" que preocupa pais e educadores. É tão complexo e com diferentes variáveis que seria muita pretensão querer esclarecê-lo de forma completa.

O que pode ficar registrado, antes de qualquer explicação mais detalhada, é que um comportamento agressivo é construído nas relações e interações com o ambiente.

Não se pode afirmar que as crianças crescem de acordo com um padrão biológico genético, nem que são os adultos que moldam a sua personalidade, porque na verdade já descobrimos que temos alguns comportamentos inatos e outros aprendidos.


O temperamento pode ser definido como a reação que cada pessoa apresenta diante das situações da vida. Esta reação é única em cada indivíduo. A parte inata da personalidade, determinada pelos genes, é o temperamento. O temperamento não está ligado à inteligência.

Cada pessoa, independentemente da idade, nível de inteligência e nível de capacidade física, possui uma tendência natural para responder a estímulos em graus variados, o que se refletirá no temperamento. Daí a importância da combinação entre temperamento da pessoa e seu ambiente físico e social.

Nível de atividade
Agitado ou tranqüilo: algumas pessoas estão sempre calmas, enquanto outras parecem estar em constante agitação.

Humor
Um copo metade vazio ou metade cheio: algumas pessoas nascem otimistas, outras nunca vêem o lado positivo das situações.

Reações
Pavio curto ou tranqüilo: algumas pessoas explodem ou ficam inconsoláveis diante de um problema. Quando tudo corre bem, não há controle da empolgação. Outros já reagem ao mundo com menos intensidade, em situações agradáveis ou não.

Ritmo
Metódico ou não: apresentam variação na regularidade, previsibilidade e consistência nos hábitos pessoais. Extrovertida ou introvertida Primeiras impressões: há pessoas que são mais interessadas do que outras em fazer novas amizades, viajar, realizar novas atividades.

Adaptabilidade
Surpreso ou chocado: mudanças podem deixar algumas pessoas desnorteadas e outras mais cautelosas.

Sensibilidade auditiva
Música ou barulho: algumas pessoas parecem ser mais sensíveis ou menos tolerantes a sons muito altos, barulheira ou outros estímulos auditivos.

Atenção ou persistência
Desiste facilmente ou vai fundo: algumas pessoas se envolvem em um projeto ou idéias e se empenham até o fim, outras desistem mais facilmente quando se deparam com obstáculos.

Capacidade de se distrair facilmente
No mundo da lua: algumas pessoas precisam de paz e silêncio para trabalhar, pois se distraem facilmente. Outras conseguem ignorar as interferências e dar prosseguimento a uma tarefa sem grandes problemas.


Procurar ter em mente que o temperamento da criança é único ajuda a respeitá-la como indivíduo. Conhecendo e compreendendo o temperamento da criança, a convivência é harmoniosa, pois com a assistência dos pais e educadores à criança faz com que ela aprenda a viver em sociedade.

Dessa forma, ela crescerá mais confiante em si mesma, alcançando sucesso e felicidade, principalmente se tiver oportunidade de brincar, trabalhar e viver da sua maneira. Há crianças que desde bem pequenas agridem outras crianças, até maiores, no playground; enfrentam a autoridade dos pais; quando ingressam na escola, não se concentram em nada; gritam, esperneiam por qualquer motivo ou sem motivo, na rua, na escola ou em qualquer lugar; têm crises temperamentais, jogam para longe peças de jogos que não conseguem montar, não querem comer na hora adequada, recusam alimentos e jogam-nos no chão etc.

Quando um adulto, pai ou educador, diante de situações como as descritas, afirmam que a criança é muito difícil, não devem esquecer que criança é muito mais esperta do que aparenta ser e que pode tirar proveito disso. Quando uma criança bate nos pais, não se deve devolver a agressão nem ignorar esse tipo de comportamento. Deve-se dizer com firmeza "Não pode bater".

A agressão desse tipo, principalmente em crianças bem pequenas, mostra que elas estão sobrecarregadas. Só os pais podem dar a oportunidade para que elas se controlem. É importante abraçar a criança, acalmando-a, evitando que ela bata em outras pessoas.

Sempre que perceber que a criança está ficando irritada, é importante distrai la. Crianças nessa fase pensam de maneira bem egocêntrica - tudo gira em tomo delas, e acreditam ser o centro do universo - o que não é egoísmo, mas apenas uma visão limitada do mundo. Recompensar positivamente um comportamento adequado (sem chantagens) é melhor do que repreensões constantes por mau comportamento.

Também pode ser que essas atitudes sejam um reflexo do que está se passando ao redor dela, como algum tipo de mudança no ambiente familiar. Pai e mãe, juntos, devem ter todo cuidado ao educar um filho: começar, desde muito cedo, a implantar regras de comportamento, não como imposição, mas como um processo natural.

A criança deve aprender, ainda bem pequena, até aonde vão seus limites, que existem horários estabelecidos para tudo e que o NÃO deve ser respeitado. Aos pais também cabe aprender até aonde vão os limites de autoridade. Eles precisam respeitar as limitações da criança.

Exigir determinados comportamentos sem que a criança esteja tranqüila, querendo que ela cante, repita frases, conte piadinhas (...) ou simplesmente participe de situações sociais, quando na verdade o que deseja é uma sopinha quente ou uma caminha macia, são situações que não devem acontecer.

Atitudes assim podem desencadear acessos de raiva, pois ás crianças sentem-se frustradas, o que é muito comum. Com o desenvolvimento da linguagem, os acessos diminuem, pois a criança aprende a expressar seus sentimentos. A melhor abordagem de disciplina para crianças bem pequenas é o controle do ambiente.

É importante que as crianças toquem todos os tipos de coisas. Só assim elas vão aprender. É evidente que os cuidados para que a criança não se machuque nem quebre algo de valor são necessários, pois discurso não funciona com elas. Caso os pais não queiram que a criança mexa em algo, simplesmente devem retirar o objeto, colocando o longe do alcance dela. A estratégia dos pais ou educadores vai mudando à medida que a criança amadurece e consegue entender as conseqüências de seus atos.

Mesmo porque disciplinar significa ensinar e não castigar. Por volta dos três anos, três anos e meio, é bastante comum as crianças apresentarem condutas agressivas em relação aos adultos e às outras crianças, com mordidas, empurrões, chutes etc. Nessa fase, podemos afirmar que essa agressividade é essencialmente manipulativa, ou seja, a criança agride os outros para alcançar determinados interesses, por exemplo: para ganhar um brinquedo, para se defender durante a disputa por um objeto, pela atenção exclusiva da educadora ou simplesmente para ser o primeiro da fila. Esse tipo de conduta é a maneira que a criança encontra para controlar o ambiente e satisfazer suas necessidades.

Podemos dizer que a agressividade não é algo próprio da natureza das crianças e sim um tipo de comportamento que tem uma função no desenvolvimento delas. A agressividade não desaparece de uma hora para outra, como num passe de mágica. A criança aprende com os adultos que existem outras formas de se defender e obter aquilo que lhe interessa.

Quando os pais ou educadores esclarecem à criança que não é necessário tirar dos colegas os brinquedos, mas que é possível pedir para brincar com eles ou chegar a um acordo sobre como dividi-los, estão ensinando sobre as ESTRATÉGIAS SOCIAIS, que podem substituir naturalmente condutas agressivas.

Se essas estratégias se mostram eficazes, gradualmente a criança aprende a negociar. Se a família e/ou escolha valorizam e incentivam essas atitudes, aos poucos a conduta agressiva ameniza-se e passa a ser menos freqüente que as outras formas de controlar o ambiente. As brigas e as disputas violentas vão se tornando menos freqüentes com o passar do tempo e eventualmente irão acontecer em situações extremas, como num caso de ofensa muito grave.

Podemos dizer que a agressividade não é algo próprio da natureza das crianças e sim um tipo de comportamento que tem uma função no desenvolvimento delas. Assim como a criança aprendeu determinado tipo de comportamento (bater num colega, porque observou essa atitude em outras pessoas) ela pode substituí-lo por outras condutas.

Quando condutas agressivas tornam-se um padrão freqüente de comportamento e persistem com o tempo, é necessário verificar os motivos e rever o histórico da criança. Juntos, família, escola e demais profissionais envolvidos vão encontrar uma forma de lidar com essas condutas, estimulando a interação e o convívio social, evitando que esses comportamentos possam se transformar em um "problema" mais sério na adolescência e na vida.

Antes de "rotular" uma criança como "agressiva", é preciso pensar: será que a educação que ela vem recebendo não é responsável por essas atuais condutas? Até que ponto o temperamento pode justificar tanta rebeldia? Esses comportamentos apresentados são próprios dessa idade? A criança está bem adaptada à escola? Nasceu um (a) irmãozinho(a)? O casal discute com freqüência na frente dela? Perdemos a consciência de limites? Hesitamos em fazer valer sobre os filhos a autoridade? Temos medo de sermos rejeitados por nossos filhos? A figura paterna está em segundo plano? Filhos não possuem referencial masculino? A palavra de ordem é permissividade? Em que estou errando?

Fazendo um pequeno esforço, é possível nos lembrarmos de histórias sobre a falta de autoridade dos pais em relação aos filhos: crianças que batem nos pais, exigem brinquedos ou alimentos no horário e local de sua escolha, fazem o que têm vontade, xingam os pais e usam e abusam da chantagem. Há uma série de condutas dos pais que podem ser chamadas de "condutas de risco" para o desenvolvimento de padrões agressivos de comportamento nos filhos.

Uma dessas condutas é quando os pais rejeitam a criança, deixando evidente que ela não foi planejada, nem esperada; não é amada ou que ninguém se importa por algo que possa lhe acontecer. Outra conduta é a inconsistência na forma de colocar limites: os pais são permissivos demais, deixando que a criança faça tudo que deseja e, em outras ocasiões, apresentam-se autoritários, inflexíveis, fazendo uso de punições.

A criança sente-se confusa, insegura, impossibilitada de perceber o que é ou não aceitável. Também encontramos alguns pais que estimulam a conduta agressiva, principalmente para resolução de conflitos. Às vezes, a distorção de opiniões ocorre na fase pré-escolar, pois a escola segue uma linha de pensamento e a família outra.

Isso pode trazer conseqüências desagradáveis para a criança. Crianças que assistem a cenas violentas ou são vítimas da violência dos pais podem acreditar que essas atitudes são aceitáveis, julgando tais ações como naturais para lidar com frustração, raiva ou insegurança. Na verdade, toda a violência pode exercer uma influência decisiva no comportamento da criança.


O pai, a mãe e o educador sabem que é possível vivenciar atitudes agressivas, mas nunca esperam que possam fazer parte do histórico de seu filho ou aluno, principalmente nessa fase, como temos constatado. A criança envolvida pode adotar uma atitude de defesa, sentindo-se cada vez mais frustrada por não conseguir o apoio de alguém que poderia ajudá-la e torna-se até mais agressiva.

A violência também é uma preocupação constante entre pais e educadores. Márcio Schiavo, consultor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef coordenou uma pesquisa em que buscava esclarecer o conteúdo dos games preferidos pelas crianças (videogames) ) e o resultado foi preocupante: a maioria dos games faz com que a criança assuma o papel de matador. Muitos defensores desses jogos afirmam que brincadeiras violentas sempre existiram. É preciso deixar claro, porém, que por vezes a criança nem está jogando, apenas acompanhando um adulto ou irmão que se trancam no quarto por horas e chegam a "matar" 400 pessoas.


No entanto, o principal problema é o desenvolvimento do conceito de agressividade sem conseqüências, ou melhor, o conceito de agressão recompensada. Além de não existir por parte dos pais (com raríssimas exceções) nenhuma restrição quanto ao hábito de jogar, seja em relação ao tempo, à freqüência ou ao gênero escolhido, a criança pequena, que ainda não domina o game e admira o irmão, o pai, o tio, vivencia a experiência, acha natural toda exposição à violência.

Devemos educar os filhos para o videogame, assim como os educamos para o computador e a televisão, que também mostra cenas violentas com freqüência, ultimamente as narrativas de seqüestros que acontecem a todo instante em nosso país. A criança precisa estar ciente dos valores de sua família, mesmo porque uma criança, que está em constante desenvolvimento, não pode passar tantas horas em frente a um jogo, em posições geralmente inadequadas à sua postura.

Necessita sim, correr, conversar, brincar, pedalar, jogar bola, atividades que possibilitam novas e significativas experiências. Educar é uma missão complicada, que incorre em erros e acertos, mas vale a pena tentar e insistir, pois a criança percebe o empenho da família e vai superando mais rápido algumas fases críticas de sua vida. Crianças que assistem a cenas violentas ou são vítimas da violência dos pais podem acreditar que essas atitudes são aceitáveis (...)

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